A perspectiva de mudança na dinâmica atual do sono cresce conforme as empresas percebem que funcionários cansados são menos produtivos e adoecem mais. Segundo um estudo da Universidade Harvard, a produtividade baixa por causa da estafa faz com que as companhias americanas percam 63,2 bilhões de dólares por ano.

O sono também é uma questão de segurança. No Brasil, foi criada em 2012 a Lei do Descanso, que tinha como foco acabar com as jornadas abusivas de caminhoneiros, mas que ainda não emplacou. Em 2010, o governo americano criou uma regulação que exige que empresas de áreas como transporte e energia tenham uma política de gestão de fadiga.

O mesmo é exigido no Canadá, na Austrália e em alguns países da Europa. Com base nisso, Martin Moore-Ed, ex-professor da Harvard Medical School, criou uma empresa de gestão da fadiga. Ele já prestou consultoria para mais da metade das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune, como Exxon-Mobil, Chevron e American Airlines.

Em um dos casos, uma empresa de trens gastava 32 000 dólares com acidentes a cada 1,6 milhão de quilômetros percorridos. Por ano, essa distância era feita centenas de vezes. Com a consultoria, a empresa passou a restringir turnos longos e a fazer testes de fadiga com os funcionários. Em meses, o gasto com acidentes caiu para 8 000 dólares.

Outra empresa semelhante, The Energy Project, consultoria que já prestou serviços para Coca-Cola, Google, EY, Ford Motor e Nestlé, propõe intervalos de descanso a cada 90 minutos de trabalho, almoços fora do escritório, home office, fim do expediente às 18 horas e uma sala onde os funcionários possam tirar uma soneca.

Por enquanto, no Brasil, poucas empresas tomam medidas para melhorar a qualidade do sono de seus funcionários. As mais antenadas oferecem no máximo salas de descanso ou de descompressão, e em muitos casos o uso é restrito à hora do almoço.

A Pirahy, produtora de arroz, localizada em São Borja, no Rio Grande do Sul, por exemplo, criou uma sala de repouso na fábrica após identificar que os funcionários usavam parte do horário do almoço para cochilar embaixo das árvores. “Não temos como precisar os ganhos disso, mas vemos que quem dorme volta mais bem-disposto e mais alegre”, diz Renan Toniazzo, diretor da Pirahy.

Na Locaweb, a sala de soneca partiu de uma demanda da equipe. “Como o clima da empresa é mais liberal, as pessoas não sentem vergonha. É possível encontrar gente dormindo em diferentes horários do dia”, afirma Claudia Ajbeszyc, gerente executiva de recursos humanos da Locaweb, de São Paulo. O mesmo aconteceu no escritório doWalmart.com, loja online da rede varejista com escritório em São Paulo.

“Tem muita gente que chega mais cedo para fugir do trânsito e aproveita a sala para descansar um pouco”, diz Cleide Oliveira, diretora de capital humano do Walmart.com. “Temos a sala há dois anos e nunca houve problema entre funcionários e gestores. Não vemos mais ninguém bocejando durante as reuniões”, afirma Cleide.

O presidente da Novartis no Brasil, Adib Jacob, começou em 2013 a adotar hábitos saudáveis, como correr e fazer uma alimentação equilibrada. Ao perder peso, começou a ter um sono melhor. “Fiquei mais concentrado, menos nervoso e com mais energia”, diz Adib.

Polêmica, a soneca no trabalho é uma bandeira há muito levantada pela psicóloga americana Sara Mednick. “O descanso ajuda nossa produtividade, além de melhorar o humor e a criatividade”, afirma Sara, professora assistente na Universidade da Califórnia e autora do livro Take a Nap! (“Tire um cochilo!”, inédito no Brasil).

Ela realizou um estudo para ver como pessoas que dormem bem à noite se sentem durante o expediente de trabalho de 9 às 18 horas. O resultado foi uma queda de desempenho ao longo do dia. Após uma soneca de 1 hora, a produtividade não só se igualou à observada na parte da manhã como permaneceu alta até o final do expediente.

Além disso, segundo Sara, houve aumento de 40% na criatividade. Em testes de memória verbal e motora, o desempenho de indivíduos que cochilaram ficou acima daqueles que tomaram café. “As pessoas tomam café para ficar acordadas e, quando chega a noite, tomam remédio para dormir. Será que esse é mesmo o melhor jeito de encarar uma semana de trabalho?”, diz Sara.

Os três remédios de tarja preta mais vendidos no Brasil são calmantes, que, entre outras funções, ajudam a dormir. São quase 17 milhões de caixas por ano, e o número só vem aumentando. O que muita gente não sabe é que, apesar de ajudar a pegar no sono, a qualidade do descanso é inferior. E muitos também sentem os efeitos do medicamento no dia seguinte.

No centro de São Paulo, profissionais cansados podem descansar no Cochilo, estabelecimento que oferece cabines com cama para clientes tirarem uma soneca. Por 15 minutos, pagam-se 10 reais­. O advogado Carlos Eduardo Nogueira Dourado, de 35 anos, tornou-se frequentador por causa da filha recém-nascida.

“Quando estou muito cansado, tomar café não adianta. Só dormindo”, diz Carlos. A proprietária do Cochilo, Alicia Jankavski, conta que algumas empresas próximas estudam fechar convênio com o espaço. “A moda da marmita não voltou? Está faltando isso acontecer com o sono”, afirma Alicia.