A Abicol apoia este alerta sobre a nova investigação de dumping na importação de fios de poliéster texturizados
São Paulo, 20 de fevereiro de 2025
A Associação Brasileira dos Fornecedores de Matérias-Primas Têxteis (ABRATEX) alerta para os riscos iminentes que uma nova investigação antidumping representa para toda a cadeia têxtil nacional. O processo, iniciado a pedido da multinacional americana UNIFI, ameaça impor tarifas de até 64,9% ou US$ 0,79/Kg (aproximadamente R$ 5/Kg) sobre a importação de fios de poliéster texturizados da China, componentes essenciais para a indústria têxtil brasileira.
Especialistas apontam que tal medida é potencialmente devastadora para a cadeia têxtil. Esta movimentação ocorre em um cenário externo já tenso, marcado pelo forte aumento da incerteza global, além de um cenário doméstico que começa a dar sinais de claro enfraquecimento da demanda interna, a partir de altas taxas de juros e inflação persistente. A coincidência temporal e a possíveis consequências da imposição de tal medida sobre um setor altamente intensivo em mão-de-obra, levanta questionamentos sobre o real interesse público de sua eventual aplicação.
Lucas Ferraz, ex-Secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia e Professor da FGV, oferece uma análise crítica da situação: “Esta investigação antidumping representa um retrocesso significativo para a competitividade da indústria têxtil brasileira,” afirma Ferraz. “Impor tarifas tão elevadas em um insumo crucial vai na contramão de uma política comercial moderna e dinâmica, essencial para a inserção do Brasil nas cadeias de suprimentos internacionais”.
Ferraz destaca que a medida, se aprovada, poderia ter consequências de longo alcance: “Estamos diante de um cenário onde uma decisão mal calibrada pode não apenas encarecer produtos essenciais para o consumidor brasileiro, sobretudo de baixa renda, mas também comprometer milhares de empregos ao longo de toda a cadeia têxtil. É um exemplo claro de como o protecionismo em excesso pode, na verdade, ser contraproducente, levando à piora do quadro econômico de um setor tão importante para nossa economia”.
A ABRATEX corrobora a análise de Ferraz, enfatizando que o mercado brasileiro de fios texturizados já é diversificado e competitivo. A entidade alerta que a imposição de tarifas tão elevadas poderia desequilibrar toda a cadeia produtiva, com repercussões negativas para a economia brasileira como um todo. Além disso, a ABRATEX ressalta que esta é uma tentativa injusta de restringir a competitividade da indústria têxtil nacional.
É crucial notar que a UNIFI, empresa que solicitou a investigação, representa apenas cerca de 15% da oferta do produto no mercado brasileiro, sendo a única produtora nacional em caráter de monopólio. Este dado evidencia a forte dependência do setor em relação às importações, que são essenciais para suprir a demanda interna. A imposição de tarifas antidumping na magnitude proposta elevaria os custos de produção em mais de 60%, um impacto que inevitavelmente seria repassado ao consumidor final.
A indústria têxtil brasileira, que emprega diretamente mais de 1,5 milhão de pessoas, depende criticamente desses insumos para manter sua produção competitiva. As tarifas propostas são exorbitantes e, se aprovadas, inviabilizariam a produção nacional de tecidos e malhas, resultando em aumento dramático de custos, inflação nos preços de vestuário e, potencialmente, na perda de milhares de empregos em todo o país.
É importante ressaltar que a decisão anterior de suspender medidas antidumping similares, tomada em 2023 e reafirmada em 2024, foi baseada em uma análise abrangente que considerou o bem-estar econômico de toda a cadeia produtiva do setor têxtil. A multinacional estadunidense UNIFI peticionou através da ABRAFAS diversas vezes pela aplicação da medida protecionista, mas o governo entendeu que a imposição de tal medida seria mais maléfica do que benéfica ao setor têxtil e à economia do país, extinguindo a medida em agosto do ano passado.
A reabertura deste debate, especialmente por uma empresa estrangeira que representa uma parcela minoritária do mercado, operando em caráter de monopólio, parece desconsiderar o delicado equilíbrio do setor têxtil brasileiro e a importância crucial das importações para o abastecimento adequado do mercado nacional.
As associações, sindicatos e federações Sifitec, Sintex, Sinditec, Sindivest, Sindivestil, Abratex, Abicol, ACIBR, FIEMS e Fiesc apoiam este alerta.
Vol. 11 – Edição 014 – 20/02/2025