Fundador da Americanflex, o empresário Johnny Jardini, de São José do Rio Preto, começou fazendo colchão de capim 57 anos atrás. Hoje em dia, a prioridade da empresa, que faturou R$ 114 milhões em 2014, é abrir lojas próprias e franquias após varejistas pressionarem por muitos descontos, o que prejudicava os lucros.

Em ano de crise (e com 50 demissões), a empresa prevê crescimento do faturamento de 11%, graças a essas lojas e ao comércio eletrônico. Veja abaixo um relato de Jardini.

Antes de fabricar colchões, fiz de tudo. Fui caminhoneiro por três anos, vendi alimentos de porta em porta numa época sem estradas, no interior de São Paulo.

Numa chegada a Rio Preto, um primo me procurou, propondo uma sociedade numa colchoaria. Nem sabia o que era isso. Dormia num colchão, mas não sabia o que significava. Era um negócio bem pequeno, só se fazia na época colchão de capim.

Já estava cansado do trabalho anterior, não via os filhos crescerem. Fomos ver a colchoaria e, no dia seguinte, fechamos o negócio.

Eu não tinha nem 10% para dar de entrada. Quando assumi a fábrica, vi que era uma loucura. Tinha quatro empregados e uma máquina de costura. Aprendi a cortar tecido, fechar o colchão, fazer o saco para enchê-lo de capim barba-de-bode. Uma luta!

Aos sábados, trabalhava até tarde e tinha de pagar os funcionários. Em muitos sábados voltei para casa sem dinheiro. Após um ano e meio, queria abandonar, mas fui convencido a continuar.

Nossas matérias-primas eram capim e tecido, a coisa mais rústica possível. Não havia capim industrializado. Era praga na região de São Carlos e Ibaté. Os catadores fardavam, e eu ia com uma camionete velha e comprava. Passamos a vender dez por dia, depois 15, cem. Surgiu uma preocupação enorme: e quando todos tivessem colchões, o que faríamos? Até hoje não parou.

Saímos do colchão de capim, que fizemos de 1958 a 1964, e fomos para o de mola, muito mais trabalhoso, por envolver crédito com fornecedor, fio de aço.

Chegamos a fazer colchões de mola com a marca Sonhador. Mas outra empresa entrou com uma ação porque havia registrado a palavra.

Tive de mudar o nome e levei duas opções a um amigo que fazia logotipos: Noturno e outro que não lembro mais. Ele trouxe as duas e também o Americanflex –o nome da nossa colchoaria era Americana e ele pensou nisso.

Após 11 anos, dissolvemos a sociedade e toquei a fábrica sozinho. Fiquei devendo dinheiro ao ex-sócio à época.

Surgiu o colchão de espuma, que derrubou o de molas. Conseguimos comprar uma máquina de fabricar espuma e deu tudo certo, apesar de os concorrentes e fornecedores falarem que o “Jardini vai quebrar”. Passamos a fazer colchões adoidados: 40 mil num mês.

Nos anos 1990, abrimos uma fábrica em Campina Grande (PB), e, em 2004, compramos uma em Minas.

Com as três, vínhamos atendendo o varejo fortemente, mas chegou um ponto que não dava mais, as lojas pressionavam por produto barato.

Contratamos uma consultoria e, entre as propostas, estava a de abrir franquias e lojas próprias. Já tínhamos uma loja, aberta há 12 anos, e notamos que o público precisava de um atendimento melhor.

Hoje estamos com 16 e mais três previstas. Não abandonamos os outros canais e vendemos bem para varejistas, mas é uma alternativa, assim como o comércio eletrônico.

Hoje fazemos de 400 mil a 500 mil colchões por ano e devemos crescer 11% em relação a 2014 [faturamento de R$ 114 milhões], por causa desses novos negócios.

Também estamos em crise de vendas, demitimos 50 pessoas nas três fábricas, de 536. Todos se apavoram, eu também. Mas passei por tantas crises em 57 anos que falo que vai passar. Vai ter alguma coisa mais apertada ainda, mas no ano que vem já muda.

 

RAIO-X AMERICANFLEX

Faturamento em 2014: R$ 114 milhões (previsão de alta de 11% neste ano)

Número de funcionários: 536, em três fábricas (em São Paulo, na Paraíba e em Minas Gerais)

 

Fonte: Folha e S. Paulo